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UFF - Universidade Federal Fluminense

A Pedra de Xangô

  Mediação Virtual

Interpretação em Libras   Orientações de acessibilidade

Quando em 2004 foram iniciadas as obras para a construção de uma avenida que cruzaria uma parte da extensa área de Cajazeiras (em Salvador), um dos elementos sagrados de nossa história estaria novamente ameaçado. Com o desmatamento para a construção da via, uma enorme pedra de aproximadamente dois bilhões de anos estaria prestes a ser demolida.

Antes, há alguns séculos, tudo o que ladeava a pedra era morada de indígenas Tupinambás, sendo que mais tarde estavam também sobre os cuidados dos descendentes das nações africanas Ketu, Jeje e Angola. As folhas que curavam estavam na mesma mata que encobria a pedra de 8 metros de altura e por detrás havia um rio – que secou.

Em plena Mata Atlântica, entre locais de trabalho forçado e fazendas de cajás que dão nome ao atual bairro, há histórias de que a pedra também servia como divisa para a possibilidade de uma outra vida ao povo destituído de liberdade. Pela fenda que existe nela, nossos antepassados escravizados a atravessavam e estariam diante uma nova rota de vida. Redescoberta em 1990 e diante toda essa força, mais tarde aferida também pelos búzios, estava dada a consagração: aquele lugar era um dos palácios do Rei Xangô, força da justiça.

Fruto da resistência, a Pedra só não foi demolida como se tornou monumento em 2017, reconhecida como patrimônio histórico, geológico, simbólico e cultural, estando atualmente prestes a protagonizar a oficialização da construção de um Parque com seu nome no intuito de preservar o remanescente de Mata Atlântica e toda a natureza dos encantados.

AUDIOTEXTO SOBRE A PEDRA DE XANGÔ

AUDIOTEXTO – LINGUAGEM SIMPLES SOBRE A PEDRA DE XANGÔ

 

*reconhecidamente um elemento sagrado, pedimos licença ao apresentarmos a Pedra de Xangô.

Com o mesmo respeito, saudamos a Pedra do Sal e todo seu histórico de resistência.

Nesta sala, apresenta-se algumas aproximações entre duas pedras localizadas em nosso território: A Pedra de Xangô e a Pedra do Sal.

Sendo uma localizada em Salvador e outra na cidade do Rio de Janeiro, o intuito aqui é apresentar pontos de aproximação entre ambas dentro de um ponto de conversão: o fluxo, a viagem, o exôdo, a caminhada e tudo aquilo que se faz caminho. O ponto central dessa apresentação se dá a partir das questões relacionadas aos processos de trânsito e trajetória dentro do território nacional, do fluxo entre nossos antepassados recentes, herdeiros de reinados destituídos diante uma violência de séculos.

Assim, por aqui não nos concentraremos especificamente na inesgotável história das pedras em si (do mesmo modo que não foi feito nas demais salas até agora), no que emana de suas naturezas únicas, incluindo aí todo seu valor sagrado. A outras vozes cabem melhor a tarefa, o que não nos faz omitir louvor as mesmas, pelo contrário: acreditamos que mesmo escolhendo outro ponto para a tratarmos, o mesmo pode servir ao leitor atento ma busca mais conhecimento sobre o que circunda as mesmas pedras.

Desse modo, aqui trataremos muito mais de apresentar figuras que de alguma forma tocam assuntos próximos às duas pedras.

Que a Pedra de Xangô com sua fenda e a Pedra do Sal com sua escadaria nos permitam sempre achar nossos caminhos.

 

 

 

 

 

 

 

 

Uma fenda na pedra, brecha de caminho

 

Millena Lízia
“Encontros geram caminhos”, 2020
Experiência epidérmica com animação a partir de bordados.
Série “Pessoa pra Pessoa”

@millenalizia

Millena Lízia é uma existência nesse mundo em busca de uma caminhada com dignidades e saúdes. Planta e deseja colher. Busca as simplicidades, pois as coisas mais banais lhe chegam com camadas de desafios e complexidades. Tem visto em suas mãos seu coração. Institucionalmente, estudou comunicação visual, montagem cinematográfica e arte contemporânea. Vem colaborando desde 2010 com diversos encontros, produções, rodas, proposições educativas, publicações e exposições coletivas.

Oferece neste semestre o curso “Experiências Epidérmicas/Epidêmicas: movimentos para organizações de cadernos de artistas-pesquisadoras” na Escola de Artes Visuais do Parque Lage.

 

 

Escultura de Amilcar de Castro, localizada em via pública no Rio de Janeiro. A peça sem título é conhecida como ‘Estrela’, de propriedade pública inaugurada em 1996 no Centro do Rio, e deslocada para o Leblon em 2012.

A pedra entre a fenda (e a escultura que caminhou)

Em 1952, Amilcar de Castro saiu de Belo Horizonte e foi para o Rio de Janeiro.

Um ano depois, exibiu sua primeira escultura nos traços que o tornaria celebrado já na II Bienal Internacional de São Paulo. A peça então pequena, sem título no catálogo da mostra, ganhou o apelido de ‘Estrela’. Enquanto o cruzamento das chapas retas de cobre formam cantos que apontam para todos os lados, o seu centro é preenchido pelo o que a vista alcança, tornando livre nossa passagem.

Mais de quarenta anos depois a peça cresceu, e já com mais de dois metros de altura foi inaugurada como propriedade pública, no centro da cidade do Rio de Janeiro. Os pedestres que por ali passavam podiam ver em outra dimensão a primeira peça de Amilcar e como o mundo a atravessava.

No entanto, por ali não ficou muito tempo: em 2012 a escultura passou para um canteiro localizado no meio de uma avenida na Zona Sul. Pela sua fenda, se desviarmos a vista dos carros apressados, podemos ver uma grande pedra; parte da formação rochosa do Morro Dois Irmãos.

 

Da Bahia ao Rio, do céu ao fogo

NOTAS PROÊMIAS Fotografia do Meteorito Bendegó, de Raphael Pizzino. O incêndio ocorrido no Museu Nacional no Rio de Janeiro em 2018, teve no início da noite de 2 setembro. Exposto no hall da entrada principal, o meteorito, um bloco constituído por uma massa compacta de ferro e níquel, pesa de 5,36 toneladas. Mede 2,15 metros de comprimento, 1,5 metros de largura e 65 centímetros de altura. É o maior meteorito encontrado no Brasil, e o 16o. maior do mundo. Ele foi encontrado em 1784 pelo menino Domingos da Motta Botelho, em uma fazenda próxima à cidade de Monte Santo, no sertão da Bahia. A primeira tentativa de transportar o pesadíssimo bloco para o Rio de Janeiro, então capital do país, fracassou quando a carreta de madeira que o carregava desgovernou-se e caiu no riacho Bendegó. Desde 1892, encontra-se em exposição no Museu Nacional graças ao empenho do Imperador D. Pedro II, que tomando conhecimento de sua existência e importância científica, providenciou sua remoção para o Rio de Janeiro. O Meteorito Bendegó pertence ao acervo do Museu Nacional, a mais antiga instituição histórica do país, fundada em 1818 por dom João VI , e hoje vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro. A cor verde da porta é uma referência simbólica à Casa de Bragança. Os detalhes em ferro, preservam os símbolos reais, as iniciais PII de D. Pedro II, encimadas por coroa e envoltas por ramos de café, símbolo da riqueza do Brasil Imperial no século XIX.
Raphael Pizzino
Meteorito de Bendegó
agradecimentos a UFRJ
 

Em 1784, foi encontrada na cidade de Monte Santo (BA) uma enorme pedra preta. A descoberta feita por um garoto chamou a atenção dos proprietários da terra daquele pedaço de sertão baiano e foi ganhando fama até chegar aos ouvidos de pesquisadores brasileiros e estrangeiros. Logo, viram que se tratava de um meteorito; e um dos maiores do mundo à época das primeiras expedições científicas que tentaram remove-lo dali. A primeira tentativa de remover a pedra do lugar foi um fracasso. Com cerca de 5,5 toneladas, ela fez tombar um carro de bois que tentava carrega-la, o que lançou o meteorito a um lago chamado Bendegó. Por ali ficou escondido por pouco mais de cem anos, até que em 1888 uma nova expedição mobilizou gente, carro de bois, vagões e um barco a vapor em uma das maiores empreitadas de translado do período, no deslocamento da pedra da Bahia em direção ao Rio de Janeiro, sede do império. Nove anos mais tarde, pertinho dali, se daria um dos mais cruéis massacres de nossa história: a guerra de Canudos.

Pedra do Ingá O Reino das Sempre-vivas e a Morte Caetana
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