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UFF - Universidade Federal Fluminense

  Mediação Virtual

Entre as pedras do cerrado brasileiro, nasce uma espécie de flor miúda, por vezes luminosa, que guarda uma característica peculiar.
A planta, também conhecida como capim-dourado, reluz no campo verde e é parte da paisagem do Parque Nacional das Sempre-Vivas, em Minas Gerais. Sua coleta fornece renda aos moradores da região, o que com a fundação do parque em 2002 tem garantido a atividade de maneira sustentável, protegendo a planta do risco de extinção.
Depois de colhida, a planta segue brilhando.
Coletada e seca ao sol por dois dias, a curiosa flor pode resistir por anos mantendo sua luz e encanto. A aparência frágil da plantinha esconde a força que nenhum outro ser vivo conseguiu: desafiar a morte, mantendo o brilho da vida após o que seria seu fim.

 

J. Borges
O plantio de girassol’
Xilogravura, 49 x 67cm

 

Da pedra à flor

O trabalho do mais conhecido xilogravurista brasileiro é recorrentemente utilizado para ilustrar paisagens e cenas que evocam uma lembrança de uma região que foi por muito tempo associada à seca e ao flagelo. No entanto, J. Borges supera o que erroneamente se espera e revela um Nordeste como de fato o é, nos entregando em traçado uma realidade que para os olhos de alguns desavisados ainda soa como ficção. O colorido da flora não sucumbe ao destino que lhes é imposto socialmente; e se ali só esperavam pedras e terreno seco, o trabalho do mestre J Borges tem o poder de desafiar a morte que é imposta -e muitas vezes inventada- ao verde do lugar.

J. Borges
Céu estrelado
Xilogravura, 34 x 49cm

 

Pedro Índio Negro
A Estrela
Ilustração digital

Músico e designer, Pedro Índio Negro utiliza da estética que ganhou lastro pela arte de J. Borges para construir peças de traço similar, mesmo utilizando outras ferramentas.
O artista paraibano confeccionou em ilustração digital todas as imagens das cartas de tarot, traduzindo as figuras do baralho original e pondo-as sob o novo vestido. Os corpos de nosso povo agora estão no jogo que rompeu fronteiras (assim como a xilogravura do mestre).

 

As duas pedras

Por mais que queiramos vencê-la, uma hora ela chega até para as Sempre-Vivas.
No tarot, a carta da morte revela algo que não depende de nosso controle, algo que toma algum cenário sem rodeios, como uma incontornável verdade e transformação.

 

NOTAS PROÊMIAS Tarô Nordestino, com ilustração da carta A Força, por Pedro Índio Negro.Nascido em 1995 na Paraíba, Pedro é ilustrador, designer e músico, com formação em Comunicação em Mídias Digitais pela Universidade Federal da Paraíba. Em 2016, ainda como discente na UFPA, desenvolveu um projeto de ilustração digital das 78 oito cartas do Tarot tendo como base elementos da cultura nordestina. A proposta foi a de realizar uma simulação no digital da textura artesanal, num conceito muito próximo a xilogravura e a estética da literatura de cordel. Em diversos baralhos de Tarô, o arcano da décima terceira carta, da Morte, apresenta a alegoria de um esqueleto que segura uma foice. Tudo neste arcano tende a uma ambivalência, para marcar que se a vida está intimamente ligada à morte, também a morte é o manancial da vida. A morte é, por outro lado, a suprema libertação. Em sentido afirmativo, este arcano simboliza a transformação de todas as coisas, a marcha da evolução, a desmaterialização. Em sentido negativo, a melancolia, decomposição, ou final de algo determinado, integrado a uma duração. A carta 13 do tarô, que usualmente têm a simbologia de grandes mudanças, criação e destruição, é aqui representada pela figura do Jaraguá – elemento fantástico do folclore brasileiro. Na cultura paraibana,  o Jaraguá integra as brincadeiras do Reisado.   O Jaraguá dança em passos miúdos, e vez por outra investe aos saltos sobre o público, indo de um lado a outro batendo os maxilares, fingindo morder. É feito de uma caveira ou mandíbula de cavalo, completa, sendo os  maxilares manobrados por um cordão forte preso a uma mola para que possam abrir e fechar acompanhando o ritmo da música com o entrechocar dos dentes. Essa caveira, como cabeça, é presa a um pau comprido e forte que lhe serve de suporte e de pescoço, tão longo quanto a pessoa que o porta possa manejá-lo. Um pano colorido, geralmente estampado em corres berrantes, veste-o até ao chão, cobrindo também quem o carrega, havendo uma abertura à altura dos olhos. A vestimenta do Jaraguá tem o dobro da altura de quem o veste.   As cabeças, ao chão, remontam à fotografia histórica da exposição em 1938 na Grota de Angicos, no sertão sergipano, das cabeças decapitadas do bando de Lampião e Maria Bonita.

Pedro Índio Negro
Ilustração integrante da série ‘Tarot Nordestino’, carta ‘A Morte’. 2016

 

Ariano Suassuna
A Morte- A Moça Caetana
Ilustração

 

Pedro Índio Negro
A Roda da Fortuna
Ilustração

Ariano Suassuna
Infância
Ilustração

 

NOTAS PROÊMIAS Tarô Nordestino, com ilustração da carta A Força, por Pedro Índio Negro, nascido em 1995 na Paraíba. Pedro é ilustrador, designer e músico, e tem formação em Comunicação em Mídias Digitais pela Universidade Federal da Paraíba. A obra completo do Tarô Nordestino é composta por 78 cartas, ilustradas digitalmente, substituindo as imagens tradicionais das cartas de tarô por imagens da cultura nordestina. A proposta era simular no digital a textura artesanal, aproximando-se da estética da xilogravura da literatura de cordel. Nos diversos baralhos de Tarô, o arcano da carta XI, apresenta a imagem é de uma rainha que, sem esforço aparente, doma um leão furioso, cujas mandíbulas mantém separadas. Tem clara alusão zodiacal a Leão. Em sentido afirmativo, este arcano simboliza o triunfo da inteligência sobre a brutalidade. E, no sentido negativo, insensibilidade e furor. A Carta da Força, a décima primeira carta do tarô, tem dentre alguns dos significados a ela atribuídos, "a mão no ato de tomar e de manter".  A alegoria criada pelo artista para esta carta, é a da mulher sertaneja e simboliza a força moral, resistência e coragem.

Pedro Índio Negro
A Força
Ilustração

 

 

Se muitas vezes associamos vida e morte como pólos contrários, sabemos que não há uma sem a outra. Talvez, mais que a vida, é a infância o seu contrário: Em ‘Meninos e Reis’, a pesquisadora Gabriela Romeu apresenta histórias de crianças que dão nova vida à nossa cultura. Danças dramáticas, a exemplo dos Reisados, que parecem para muitos algo de um Brasil distante e antigo, renascem diariamente através das novas gerações que assimilam as heranças dos folguedos como uma brincadeira.

 

Flávio Tavares
A Visita de São José ao sertão da Paraíba
Acrílica sobre tela, 140cm x 180cm. 2006

 

Pedra do Ingá
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