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UFF - Universidade Federal Fluminense

Das Pedras e dos Reinos

 

Sobre a exposição

Interpretação em Libras   Orientações de acessibilidade

Gravura de Ariano Suassuna para a capa do livro Romance d'a Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue Vai e Volta.

A exposição ‘Das Pedras e dos Reinos’ pretende apresentar, sob mote do acontecimento dos cinquenta anos do Movimento Armorial, imagens que remontam uma possível história da formação do povo brasileiro e que de alguma forma atravessam assuntos relacionados à obra de Ariano Suassuna. O nome da exposição alude ao título ‘Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta’.

Serão apresentados como pontos comuns por toda a mostra os elementos ‘pedra’ e ‘reino’; ambos darão sustentação à exposição ao constantemente se relacionarem com fatos históricos, acolhendo, assim, temas presentes também na publicação de 1971.

Não se tratando de uma exposição ilustrativa ao livro, mas sim de uma mostra que pretende proporcionar diálogos através de temas sinalizados na trajetória do Movimento Armorial, a narrativa assume uma condução capaz de assumir imagens também de fora do campo artístico como relevantes para sua construção. Deste modo, imagens de outros campos do conhecimento – como a arqueologia, a antropologia e a biologia – estarão constantemente em conversa com trabalhos de artistas contemporâneos. Imagens ligadas à natureza, esperança, disputas, vida e morte estarão distribuídas pela expografia ativando interesses comuns presentes há 50 anos.

AUDIOTEXTO SOBRE A EXPOSIÇÃO

AUDIOTEXTO – LINGUAGEM SIMPLES SOBRE A EXPOSIÇÃO

Cantaria, cantoria e encantaria – e uma curadoria pedregosa
Alan Adi
Notas da curadoria

Em 50 anos tudo já foi dito sobre o Movimento Armorial? Talvez sim, muito já foi contado pelos seus próprios atores e é por pensar em tal condição que o caminho dessa exposição tomou rumo. A figura de Ariano Suassuna foi em vida tão radiosa à sua própria criação, envolvendo-a nas suas atuações como romancista, dramaturgo, desenhista, pintor, professor e gestor, em atividade praticamente até seus 87 anos, que assim fez ocorrer ao Armorial algo não sempre visto em outros movimentos: ter em seu idealizador não somente a voz inicial como também o eco mais eloquente, numeroso e ouvido por tanto tempo.

Entre o final do século XX e as primeiras décadas do XXI, sua obra ganhou aquilo que parecia ainda carecer em retorno a um Brasil real em toda sua extensão; a explosão midiática tão suspeitosa ao seu criador. Mesmo tendo livres versões tanto no teatro como no cinema mesmo antes do surgimento do Armorial, foi com a versão televisionada em minissérie do Auto da Compadecida que novas gerações e novos territórios tiveram acesso àquilo que alguns desavisados insistem nomear como ‘arte regional’. Particularmente, finjo não entender até hoje o que isso quer dizer, mas se for por uma questão de avanço geográfico, Suassuna não é estritamente regional faz tempo. Se o mesmo dizia que o único teatro que nasceu na Grécia foi o grego, caso precisemos por qualquer vontade adjetivar o nascimento de sua obra, a tratemos então como arte brasileira.

Se de lá pra cá isso expandiu o conhecimento sobre o nome de Ariano Suassuna e, por rebote, noções sobre o que ele pensava, ganhando ainda mais repercussão através de suas aulas-espetáculo compartilhadas em vídeos pela internet, não faltaram homenagens por consequência também ao Movimento Armorial – inclusive em formato de exposições. Mesmo com valor inestimável, não caberia hoje construir mostras no mesmo padrão para ser mais uma similar às tantas já bem realizadas.

No entanto, as questões reivindicatórias sobre as raízes e as transformações da arte brasileira – e que também serviram como problemas ao surgimento do Movimento Armorial –, servem-nos hoje como imprescindíveis para reaprendermos quem nós somos, pelas origens, tragédias e variações. Nunca, por exemplo, na arte ou em qualquer outro terreno, questões sobre os conhecimentos indígenas e afrodescendentes ganharam tantas vozes, em boa parte como repulsa a certos retrocessos. Em correspondência, preconceitos e injustiças insistem miseravelmente em emergir.

Em um dos seus trabalhos mais conhecidos, Suassuna apresenta um personagem chamado Quaderna, dito bisneto legítimo do rei que governou um lugar mítico no interior de Pernambuco no final do século XIX. Por lá, aconteceu um massacre sob fins de desencantamento de Dom Sebastião, desaparecido em batalha além-mar três séculos antes. Embora o livro seja uma ficção, a história do massacre é verídica.

A Pedra do Reino, nome do lugar da tragédia e título parcial do livro, daria então o mote para a construção dessa exposição. O mesmo país de Quaderna, que também é o nosso país, guarda e traduz a memória de reinados forçadamente extintos em histórias que se cruzam muitas vezes com a existência e celebração de um elemento natural comum em todo o mundo: a pedra. Se o Brasil tem nome de árvore, parece ser a pedra que lhe dá sobrenome e que acaba revelando pela resistência de sua natureza parte do que sobreviveu de nossa história.

Por todo território nacional, veremos que a pedra mapeia nossa ancestralidade, mostrando que somos descendentes de reis e rainhas de tantos mundos. As pedras nos guiam a histórias que desenharam a condição de nossas vidas hoje, metaforizando o caráter de resistência tão presente no povo brasileiro, capaz de não sucumbir a qualquer estrutura perversa e dominante. De algum modo estamos sempre atentos e firmes para nunca esquecermos: somos, antes de tudo e assim como as pedras, fortes.

AUDIOTEXTO NOTAS DA CURADORIA

AUDIOTEXTO – LINGUAGEM SIMPLES NOTAS DA CURADORIA

 

A Pedra Do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai e Volta
Leitura do primeiro parágrafo. Ouça os áudios clicando nas capas dos livros.

Audiotexto do primeiro parágrafo do livro Romance d'a Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta em português lido por Ariano Suassuna.

Pequeno cantar acadêmico
A modo de interpretação

Daqui de cima, no pavimento superior pela janela gradeada da Cadeia onde estou preso, vejo os arredores da nossa indomável Vila sertaneja. O sol treme na vista, reluzindo nas pedras mais próximas. Da terra agreste, espinhenta e pedregosa, batida pelo sol esbraseado, parece desprender-se um sopro ardente , que tanto pode ser o arquejo de gerações e gerações de Cangaceiros , de rudes Beatos e Profetas, assassinados durante anos e anos entre essas pedras selvagens , como pode ser a respiração dessa Fera estranha, a terra – esta Onça Parda em cujo dorso habita a Raça piolhosa dos homens. Pode ser também, a respiração fogosa dessa outra Fera, a Divindade, Onça Malhada que é dona da Parda, e que há milênios, acicata a nossa Raça, puxando-a para o alto, para o Reino e para o Sol.

Ariano Suassuna lê o primeiro parágrafo do seu livro “A Pedra Do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai e Volta”. Editora Nova Fronteira.

Audiotexto do primeiro parágrafo do livro Romance d'a Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta em alemão.

Erste Flugschrift
Kleiner Akademische Gesang
Nach Arte Einer Einführung

Von hier, aus dem oberen Stockwerk, durch das vergitterte Fenster des Gefängnisses, in dem ich gefangen sitze, sehe ich die Umgebung unserer unbezwinlichen Kleinstadt im Sertão. Die Sonne zittert im Blick und blinkt auf den vor mir liegenden Steinen. Von der wilden, dornigen, steinigen Erde, die von der lodernden Sonne geschlagen wird, scheint ein Gluthauch aufzusteigen, der das Keuchen von Generationen una Abergenerationen von Buschräubern, rauhen Gottesknechten und Jahr um Jahr zwischen diesen wilden Steinen ermordeten Propheten sein kann, aber auch das Atemschöpfen des seltsamen Raubtiers Erde – des grauen Jaguars, auf dessen Rücken die lausige Rasse der Menschen haust. Es kann freilich auch der feurige Hauch des anderen Raubtiers, der Gottheit, sein, des gefleckten Jaguars, der Herr ist über den grauen und seit Jahrtausenden unsere Rasse aufstachelt und in die Höhe treibt, auf das Reich zu und auf die Sonne.

Ariano Suassuna. Der Stein des Reiches. Erster Band. Stuttgart, Hobbit Presse / Klett-Cotta, 1979. Übersetzung von Georg Rudolf Lind.

Audiotexto do primeiro parágrafo do livro Romance d'a Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta em francês.

Petit chant académique en guise d’introduction

D’ici, de l’étage supérieur et par la fenêtre à barreaux de la prison où je suis enfermé, je vois les environs de notre indomptable bourg sertanèje. Le soleil, reflété par les pierres les proches, trouble ma vue. De la terre agreste, couverte d’épines et de pierres, écrasée par un soleil de braise, semble se dégager un souffle ardent, peut être le soupir de générations de Cangaceiros, de Saints et de Prophètes assassinés au long de trois siècles entre ces pierres sauvages ou bien est-ce le halètement de cette Bête étrange, la Terre, Once-Brune qui porte sur son dos la race pouilleuse des hommes ? Ce peut être aussi le souffle de feu de cette autre Bête, la Divinité, l’Once-Tachetée qui domine la Brune : depuis des millénaires, elle éperonne notre Race en la tirant vers le haut, vers le Royaume et le Soleil.

Ariano Suassuna. La pierre du royaume – Version pour européens et brésiliens de bon sens. Traduit du portugais (brésil) par Idelette Muzart. Éditions Métailié, 1998. Paris

Pedra do Reino Pedra do Ingá Pedra de Xangô Pedra do Sal O Reino das Sempre-vivas e a Morte Caetana

EXPOSIÇÃO DAS PEDRAS E DOS REINOS

Curadoria e textos – Alan Adi
Produção  – Gisela Chinelli
Produção e assistência geral – Pedro Gradella e Suane Queiroz
Web designer – Maxini Matos
Produção de material para linguagem acessível – Marianna Kutassy
Edição de vídeos para material de acessibilidade – Carlos Gomes
Colaboradores –  Janaína Dias, Solange Machado, Nathália Mendonça, Alexandre Mangeon, Carlos Newton Júnior e Izaura Mariano

Acessibilidade

Roteiro de Audiodescrição – Marianna Kutassy
Consultoria em Audiodescrição – Felipe Monteiro
Narração – Danielle França e Ruan Carlos de Lima
Gravação e Edição de Som – Diogo Lopes
Edição de Vídeos e Narração –  Alexandre Mangeon
Intérpretes de LIBRAS na Exposição Virtual  – Juliete Viana, Thamires Alves e Luan de Oliveira
Linguagem Simples  – Marianna Kutassy

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