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Mediação e Projetos

Projeto Espiral dos Afetos homenageia Nise da Silveira

Nise da Silveira: 20 anos após sua morte, legado da psiquiatra brasileira inspira o projeto Espiral dos Afetos no Centro de Artes UFF

Eventos destacam o acolhimento na saúde mental, a arte e a temática dos afetos, de 27 de outubro a 09 de novembro de 2019, em Icaraí, Niterói

O Centro de Artes UFF se inspira no legado da doutora Nise de Silveira para realizar o projeto “Espiral dos Afetos – Poéticas da Desrazão”, de 27 de outubro a 09 de novembro. Com uma série de atividades culturais, o projeto marca os 20 anos de morte de Nise da Silveira (1905-1999), valorizando a relevância da médica psiquiatra brasileira, que foi pioneira em métodos de tratamento que revolucionaram a questão da saúde mental e a terapêutica ocupacional no Brasil, ao investir na arte e no afeto em substituição a técnicas invasivas e de internação em massa.

Dois eixos culturais ganham destaque na programação: as artes visuais, na semana de 27 de outubro a 1º de novembro; e as artes cênicas, de 03 a 09 de novembro. Nas atividades de outubro, o foco estará nas artes visuais e em seus processos; no segundo eixo, haverá uma mostra de dança, teatro e performances, com debate após as sessões. Na programação – em sua maior parte gratuita e aberta ao público –, estão incluídos exposição e apresentações de artes cênicas, mesas de debate, oficinas, concertos da Orquestra Sinfônica Nacional UFF e do Quarteto de Cordas da UFF, mostra de filmes no Cine Arte UFF e a Feira dos Afetos. Realizada em dois domingos consecutivos, 27/10 e 03/11, a Feira dos Afetos terá venda de artesanato, artigos de moda, gastronomia, oficinas, feira de vinil e diversas ações culturais e de bem-estar, como ioga e meditação. Para os filmes da mostra de cinema, concertos musicais e peças no Teatro da UFF, haverá cobrança de ingressos. 

“O projeto ‘Espiral dos Afetos: poéticas da desrazão’ materializa uma aproximação construída entre o Centro de Artes UFF, em Niterói, e o Museu de Imagens do Inconsciente, no Rio de Janeiro. A partir da relação com o Museu, se uniram outros núcleos do Instituto Municipal Nise da Silveira, no bairro do Engenho de Dentro, como o Espaço Travessia (Núcleo de Cultura, Ciência e Saúde), o Ponto de Cultura Bloco carnavalesco Loucura Suburbana e o Centro de Atenção Psicossocial (CAPs) Espaço Aberto ao Tempo”, conta Pedro Gradella, coordenador de pesquisa e articulação institucional da Espiral.

Além do bloco Loucura Suburbana, outros grupos artísticos dedicados à promoção da saúde mental participam do projeto. O Espaço Travessia – núcleo cultural onde ocorrem aulas de música, teatro, entre outras formas de expressão, e que recebe artistas para se apresentar para os clientes do instituto – é parceiro do Centro de Artes UFF na curadoria da Mostra de Artes Cênicas. A parceria com o Instituto Municipal Nise da Silveira traz também para o Centro de Artes UFF peças do acervo do Museu de Imagens do Inconsciente e do Espaço Travessia, com a exposição “Museu Vivo – Poéticas da Desrazão”, cujo diferencial está nas intervenções que ocorrerão ao longo dos dias. 

De 29 de outubro a 1º de novembro, a Galeria de Arte UFF se transformará num verdadeiro ateliê vivo, nos moldes do trabalho de Nise da Silveira junto aos clientes do antigo hospital Pedro II, atual instituto que leva o nome da psiquiatra. Para Nise, os internos de hospitais psiquiátricos não deveriam ser chamados de “pacientes”, mas sim “clientes”, como uma forma de compreender a psiquiatria e a terapia como serviços a que todos eles têm direito. Pela manhã, os criadores-clientes do Instituto Nise da Silveira visitarão o Centro de Artes UFF e participarão do ateliê-vivo, acompanhados pelos artistas de referência que orientam as atividades. À tarde, o ateliê se abre para oficinas voltadas a um público especializado, preferencialmente profissionais e estudantes envolvidos com os campos das artes e saúde. Algumas das criações das oficinas vão se somar à exposição, o que valoriza a ideia de um acervo vivo e dinâmico, em constante atualização. 

Outra obra-processo que está na programação é a imersão artística “Inumeráveis estados”, de 04 a 09 de novembro, com Pedro Kosovski e Marco André Nunes, da Aquela Cia. de Teatro. Os diretores vão construir durante a semana um espetáculo com os participantes da imersão, que será apresentado no Teatro da UFF ao fim do processo, em 09 de novembro. 

Sucessos do cinema nacional que dialogam com os temas da Espiral dos Afetos se somam à agenda entre 26 de outubro e 1º de novembro, além do dia 07/11. Na mostra de filmes, destaque para a pré-estreia de “Pacarrete” (31/10), em sessão seguida de debate com o diretor Allan Deberton, a atriz Marcelia Cartaxo e a psicanalista Elizabeth Araújo; a exibição seguida de debate da trilogia “Imagens do Inconsciente” (01/11); a projeção em 35mm de “Lavoura Arcaica” (07/11) e a reexibição de “Central do Brasil” (26/10) com cópia restaurada em DCP 4k, no ano em que Fernanda Montenegro celebra seus 90 anos.

Criar, viver e amar – mote da Espiral dos Afetos 

“As manifestações artísticas expressas na programação têm Nise como vórtice dessa espiral, mas dialogam não apenas com a temática da saúde mental. As discussões também buscam a reflexão em meio a um cenário de adoecimento e fragilização emocional das pessoas e do país, buscando discutir a superação das crises profundas com as quais o Brasil se defronta atualmente”, explica Leonardo Guelman, superintendente do Centro de Artes UFF e coordenador-geral da Espiral dos Afetos. Nessa perspectiva de superação, o legado de Nise da Silveira, dentro dos espaços que lidam com a saúde e a cultura de maneira transversal, traz a possibilidade de uma troca afetiva de saberes e experiências. 

Os realizadores do projeto pretendem aprofundar a cooperação entre as instituições, para além do evento em si. “A ideia é que haja o fortalecimento de uma cidadania pautada pela ética do cuidado, um caminho para que a potência dessas forças afetivas se manifestem, revelando experiências únicas de interpretação e de leitura de mundo”, avalia Guelman.

Três autores que eram referência para a psiquiatra inspiraram o projeto: o psiquiatra Carl Gustav Jung, com a abordagem sobre o inconsciente, o filósofo Spinoza, com a temática dos afetos, e o teatrólogo Antonin Artaud, com suas reflexões sobre a loucura. O debate “Criar – Para desadoecer o mundo”, do qual participam o próprio Guelman, além de Maddi Damião Júnior, psicólogo e professor da UFF, Elton Luiz Leite de Souza, filósofo e professor da UniRio, e Ana Kiffer, ensaísta e professora da PUC-Rio, vai explorar este aspecto. 

Ainda no campo dos debates, o projeto Espiral dos Afetos terá outros três encontros. Em 30 de outubro, haverá a mesa “Mulheres na Ciência – Nise da Silveira”, com Gladys Schincariol, psicóloga-chefe do Ateliê Terapêutico/Museu de Imagens do Inconsciente e Cláudia Henschel, psicóloga, professora da UFF e pesquisadora em psicopatologias contemporâneas, com a mediação de Letícia Oliveira, neurocientista e professora da UFF. No dia 04 de novembro, ocorrerá a conferência “Ideias para adiar o fim do mundo”, com o convidado Ailton Krenak, líder indígena e ambientalista, e moderação de Wallace de Deus, doutor em antropologia pelo Museu Nacional e professor da UFF. No dia 05 de novembro, o UFF Debate Brasil especial recebe Thiago Ferreira, psicólogo e trabalhador do CAPS MSS/Rocinha, que discute o tema “A criação no cuidado: democracia na saúde pública”, com mediação de Ana Claudia Monteiro, psicóloga e professora da UFF.

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