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UFF - Universidade Federal Fluminense

 

‘‘(…) No asfalto da rua era a corrida dos carros, apitos, trilos, largo bater de patas de cavalos (…) carroções em disparada, cornetas de automóvel buzinando arredas, gente a correr, ou parada nos refúgios, à espera de um claro para poder passar, o estrépito natural do instante, à hora da noite nas cidades. Nas calçadas uma dupla fila de transeuntes sempre a renovar-se (…)’’.

Extraído do conto ‘‘A mais estranha moléstia’’, texto de João do Rio publicado em 1911.

Histórica: AGCRJ – Acervo Augusto Malta – Avenida Central

Contemporânea: Foto Ana Cláudia Fernandez – Praça XV

 

 

“Havia na voz do pastor um justo orgulho. Eu emudeci um instante, acompanhando-o. Nesta cidade de comércio, em que o dinheiro parece o único deus, homens moços e fortes pregam a bondade de porta em porta como os pobrezinhos pedem pão!”

Trecho de João do Rio em ‘As religiões no Rio”, publicado em 1906.

Histórica: AGCRJ – Cinema Colonial

Contemporânea: Foto Eduardo Moraes – Fé

 

 

“No espírito humano a rua chega a ser uma imagem que se liga a todos os sentimentos e serve para todas as comparações. Basta percorrer a poesia anônima para constatar a flagrante verdade. É quase sempre na rua que se fala mal do próximo”.

Trecho de João do Rio extraído no conto ‘A Rua”, publicado em 1908.

Histórica: AGCRJ – Desmonte da Favela do Pasmado

Contemporânea: Foto Geandra Nobre – Arco-íris nasceu no Morro do Timbau

 

 

“Se as ruas são entes vivos, as ruas pensam, têm ideias, filosofia e religião (…). Ruas assim ainda mostram o que pensam. Talvez as outras tenham maiores delírios, mas são como os homens normais — guardam dentro do cérebro todos os pensamentos extravagantes. Quem se atreveria a resumir o que num minuto pensa de mal, de inconfessável, o mais honesto cidadão?”

Trecho de João do Rio extraído no conto ‘A Rua”, publicado em 1908.

Histórica: AGCRJ – Carnaval de rua

Contemporânea: Foto Luiz Baltar – Fluxos -> Carnaval -> Paisagens mutantes

 

“— Mas é um fato. Só as coisas absolutamente insignificantes dão a sensação do passado. Eu já tive essa sensação, não solitariamente, como me aconteceria cheirando um frasco de perfume (…), mas num salão de baile, num dia de baile. E até jamais esquecerei a sensação porque vi, olhei, encarei e sofri o miserável passado com toda a sua imensa insignificância”.

Trecho de “A Sensação do Passado”, texto de João do Rio publicado em 1911.


A rua aqui é palco e espelho de tempos que se encontraram como se fosse possível em alguma esquina de 2021 avistarmos o Rio de Janeiro por onde andou João do Rio, lá pelo encontro dos séculos XIX e XX.

O escritor que narrou em suas crônicas e contos a cidade em seu imenso vapor, fervilhando de novidades naquela época, acabou gerando um documento que, sem esquecer da dura realidade, nos chegou lotado de lirismo sobre a mudança que a capital estava passando; e assim se fez um dos melhores retratos do Rio. O Rio assumia ali uma tensão típica de quem estava escolhendo revolucionar costumes através das transformações aplicadas na horizontalidade das ruas e nas diagonais dos morros. Era a cidade que virou símbolo do país tropical tentando se encaixar em planos urbanísticos modelados em uma Europa da bela époque; fria e distante das nuances que o Rio possuía (e possui).

É justamente nesse cruzamento do que foi e do que é que as imagens dessa exposição ganham força. Por mais singelas que elas possam parecer, podemos ver nas mesmas faíscas de temas imensamente caros à nossa história, como sinais da colonialidade, alguns jogos de poder e como o tal modelo de urbanização desenhou o que soa hoje como características naturais da cidade.

Para percorrermos esses trajetos entre tempos, conta-se aqui com a indispensável colaboração do Arquivo Geral da cidade do Rio de Janeiro, que cedeu a veiculação de imagens antigas de seu riquíssimo acervo para essa exposição. Para fazer par a essa parceria, conta-se também com a colaboração das fotógrafas e dos fotógrafos Ana Cláudia Fernandez, Eduardo Moraes, Geandra Nobre e Luiz Baltar. A todas e todos, nossos agradecimentos.

 

CRÉDITOS

Coordenação de Artes – Pedro Gradella
Gerência Artes Visuais – Suane Queiroz
Textos – Alan Adi
Produção – Alan Adi, Aline dos Santos, Carla Fernandes, Neide Ribeiro e Gisela Chinelli.
Web Design – Maxini Matos

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