Repensar o fato como se estivesse nele
De 06/04/2017 a 14/05/2017
A mostra de fotografia de Míriam Santiago, chamada ‘ Repensar o fato como se estivesse nele’ é um estudo, segundo a autora, diante de acontecimentos que não contaram com nossa presença. Nesse caso, a integridade do fato torna-se um insistente cálculo no juízo particular de nosso presente. Ao estarmos diante de códigos, veremos sob os olhos de hoje tudo o que nos é ofertado desde a infância, atribuindo significação aos mínimos rabiscos e gestos em uma vida onde saber ler e escrever convoca nossas primeiras atribuições coletivas, sob a ordem dos direitos e deveres. Ao homem letrado, sucede um mundo xerocopiado, onde quase tudo pode ser posto no papel para ser lido depois; e assim criaram e admitiram os dez mandamentos, as ignoradas placas de trânsito, as embalagens do leite sem lactose, os classificados do jornal do bairro, os luminosos da Shell. Tudo crente no porvir.
Avistando uma fotografia que não nossa, corremos para as legendas e esquecemos que nem tudo chega por bula.
O passado produz pactos.
Os trabalhos de Miriam Bratfisch Santiago impulsionam o delírio dos afetos resultantes das lembranças no momento que invadimos a imagem do outro e cravamos nela nossa herança. As dedicatórias emparelhadas às pinturas de mesma dimensão incomodam o acesso à certeza, mas não são suficientes para impor que o ente lembrado não esteve alguma vez no lugar descrito no verso da fotografia.
Entre lembranças voluntárias e a vontade de não querer esquecer, Miriam Bratfisch Santiago demarca em suas obras o nosso existir e o existir dos outros como uma gigantesca e crescente matéria, um corpo volátil que se espreme para caber em uma única vida.
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