Quarteto de Cordas da UFF

Sessões:

 

Neste programa, será prestada uma homenagem ao Movimento Armorial que teve a liderança do escritor Ariano Suassuna em 1970, então diretor do Departamento de Extensão Cultural da Universidade Federal de Pernambuco. Segundo a historiadora Cecília Pires "A música armorial é uma música de concerto, baseada na cultura popular. Suas primeiras composições foram resultado de pesquisas com outros compositores tendo um instrumental baseado em manifestações populares do sertão nordestino, como os cantadores e repentistas com suas violas de doze cordas e os "ternos", mais especificamente o terno de pífano do mestre Ovídio, natural do agreste pernambucano."[1]

A historiadora segue dizendo que "[g]raças à Suassuna as reuniões realizaram-se como atividade ligada ao DEC e os músicos Clóvis Pereira (pianista, compositor e maestro), Cussy de Almeida (violinista e maestro) e Jarbas Maciel (violinista e compositor) tinham como objetivo estudar e implementar a utilização erudita da música popular do nordeste do Brasil, se assemelhando ao projeto nacionalista que Mário de Andrade havia pensado no final dos anos 20. Projeto este que foi exposto no Ensaio sobre a Música Brasileira. O somatório dessas pesquisas resultaram na música armorial." 

O programa começa com o Quarteto Mosaico, de Sérgio Raz, compositor e violonista pernambucano, considerado um dos herdeiros da nova geração deste movimento. A obra foi escrita em três movimentos. O primeiro movimento, Festa na Aldeia, foi escrito originalmente para violino e violão tendo o compositor e o violonista Antônio Madureira na interpretação, registrada no cd "Segundo Romançário" de 1996. Alguns anos depois, a obra ganhou uma versão do próprio compositor para a formação de quarteto de cordas. O segundo movimento "Lamento" é um movimento de andamento lento e bastante introspectivo. Finaliza o "Quarteto Mosaico" a Floresta do Navio, um baião repleto de gestos e harmonias típicas da música armorial.  

"O Prinspe Alumioso", segunda peça do programa, é do compositor Clóvis Pereira que completou 90 anos de idade em maio de 2022, uma grande referência do Movimento Armorial. Segundo o filho do compositor, o título da peça pode ser lido como "O Príncipe Iluminado" e surgiu a partir de uma conversa entre Ariano Suassuna e Clóvis Pereira na qual se debateu como escolher um título que fosse mais próximo ao regionalismo e ao Movimento Armorial.[2] A proposta era enfatizar o nordestino iluminado. Acredita-se que o emprego da palavra Príncipe seja em função às vestimentas típicas dos vaqueiros que funcionavam com uma espécie de "armadura", trazendo um aspecto de "nobreza"." A linha melódica do instrumento tem como referência os instrumentos usados na música regional como a rabeca e os "pizzicatos" funcionando com uma espécie de percussão. Pode-se observar aqui elementos do Frevo, do Maracatu e do Baião.  

Nas palavras do compositor Danilo Guanais, obtidas da contracapa da partitura da obra, " A Novena das Pedras foi composta em 1997, a pedido do Quinteto da Paraíba e foi executada no mesmo ano em Campos do Jordão, Recife e Natal, em sua versão original para quinteto de cordas. O argumento para a composição parte de um cordel sobre Lampião. Segundo o texto, Lampião nasceu numa fazenda na Passagem das Pedras, de onde se origina o título da composição, iniciando sua saga de cangaceiro inspirado na força que da bênção dos santos São Correr, São Vigilante, São Ligeiro e São Cuidado. Dessa atmosfera pseudo-religiosa nasceu a ideia de uma Novena. A composição foi feita em três movimentos e busca uma sonoridade tipicamente armorial. Uma versão do romance Juliana e D. Jorge, colhida pelo pesquisador Deífilo Gurgel em Alcaçus - RN, é citada no primeiro movimento."

As próximas duas obras indiretamente têm a mão do escritor Mário de Andrade, um dos idealizadores da Semana de Arte Moderna de 1922. O pianista e compositor Hercules Gomes (1980) tem sido reconhecido por sua performance instrumental e por suas composições e arranjos para piano e diversas formações. O compositor inspirado no fato do Quarteto de Cordas da Cidade de São Paulo ter sido uma criação de Mário de Andrade buscou na música armorial a inspiração para a peça Cantiga, Baião e Frevo repleta dos elementos armoriais em sua rítmica e melodia.  

O programa finaliza com a execução do Quarteto de Cordas nº 2 de César Guerra-Peixe, composta em 1958, na cidade de São Paulo. O mestre petropolitano, aliás, grande contribuidor para o Movimento Armorial com diversas obras, encontrou no folclore brasileiro, em especial o do Nordeste, uma grande fonte inspiradora para as suas criações musicais. Seja através do uso dos ritmos, da forma musical ou de criações de melodias seguindo a estética das melodias folclóricas, Guerra-Peixe usou com muita criatividade e invenção estes elementos nesta obra. 

Tomaz Soares 2022

[1]PIRES, Cecilia. Breves notas sobre o movimento armorial. In Lugar Comum. Rio de Janeiro: UFRJ, nº59, dez. 2020, p. 392.

[2]  Disponível em  https://www.youtube.com/watch?v=yJo8rSm6Ygk

Programa

Sérgio Ferraz (1973) - Quarteto Mosaico 
Festa na Aldeia – Lamento - Floresta no Navio

Clovis Pereira (1932)
O Prinspe Alumioso, para quarteto de cordas

Danilo Guanais (1965) - Novena das Pedras
(versão para quarteto de cordas, elaborada em 2016, dedicada ao Café Quarteto)
Corrente de São Ligeiro
Toada de Sal e Lama (São Vigilante / São Cuidado) 
Dança de São Correr (Dança – Prece – Dança)

Hercules Gomes (1980) - Cantiga, Baião e Frevo, para quarteto de cordas
(Obra encomendada e estreada pelo Quarteto da Cidade de São Paulo -2021)

Guerra-Peixe (1914-1993) - Quarteto de Cordas nº 2
(dedicada ao Quarteto da Cidade de São Paulo, 1958)
Allegro con moto – Presto – Andante - Allegro

Quarteto de Cordas da UFF

Tomaz Soares, 1º violino       
Ubiratã Rodrigues, 2º violino
Clara Santos, viola                 
Glenda Carvalho, violoncelo

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31 de julho de 2022
Domingo | 10h30
Cine Arte UFF
Rua Miguel de Frias, 9 - Icaraí, Niterói - RJ
Ingressos: R$15 (preço único promocional)
Canais de venda: Bilheteria do Centro de Artes, somente em dinheiro