Dia de Baile
De 06/11/2023 a 28/01/2024
uma exposição de baraúna
O cronista e poeta parnasiano Olavo Bilac, no início do século XX, ao observar o surgimento dos bailes urbanos, escreveu que o Rio de Janeiro é a cidade que dança. Pois bem, um século depois, olhamos para Niterói, onde o Baile da UG acontece desde 2017.
A sigla “UG” vem de Ujima Gang, coletivo formado um ano antes por jovens moradores do Morro do Palácio. Os criadores da UG, artistas visuais, músicos, produtores culturais e musicais, DJs, produtores de vídeo e fotógrafos, naturais de outras cidades fluminenses, mudam se para Niterói para ingressar aqui, na Universidade Federal Fluminense. Em uma das fotos expostas, vemos o baile acontecer na quadra de esportes do campus Gragoatá. A universidade é compreendida como um local de encontro que possibilita colaborações e formações criativas conjuntas.
baraúna apresenta a sua primeira exposição individual com uma seleção de cerca de 50 fotografias da pesquisa que o artista inicia nos bailes de rua: a praça da Cantareira é a principal residência do Baile da UG, vizinha dos prédios da UFF. A exposição começa com a organização, a catalogação e a impressão das fotografias de uma série relevante de imagens que incluem revelações de 35mm e arquivos digitais. Molduras de acrílico colorido são escolhidas como informantes dos imaginários das festas. Copos fluorescentes, vestimentas neon. Podemos notar editoriais de moda envolvendo amigos e foliões desconhecidos. Caixinhas de fita cassete e mini DV resgatadas também são usadas na apresentação das fotos, funcionando como referentes de sonoridade e do analógico.
O trabalho de baraúna dialoga com uma tentativa atual de compor uma narrativa da história recente da arte e das imagens brasileiras, ao propor a revisão analítica de eventos passados em suas reflexões. Protagonizados por pessoas pretas, bailes foram descritos por autores da modernidade como o lazer de trabalhadores suburbanos e lugares de vivências comunitárias. Ujima, que significa trabalho coletivo e responsabilidade na língua Sualí, lembra o ideal por trás da construção do termo utopia. Na história A Non-Euclidean View of California as a Cold Place to Be, de 1982, ou “O olhar não-euclidiano da Califórnia como um lugar frio para se viver”, como livre traduzimos, Ursula Le Guin convoca o resgate da utopia por meio do movimento de jogar fora o mapa – e a vontade expedicionária de avançar continuamente – para percorrer o seu local por outros caminhos. Festejar é estar cercado de pessoas queridas e, na reunião do afeto, conseguimos revelar novos espaços e tempos. Essa possibilidade faz da festa um exercício político contemporâneo de imaginação do mundo melhor. Em outra ocasião, Conceição Evaristo disse que quem tem o privilégio de cantar ou dançar poderia não precisar fazer outra coisa. A vida tem fantasia e é dia de baile.
Engraçado é que talvez Bilac estivesse certo: o Rio dança, mas o baile acontece em Niterói, na outra margem.
Ana Pimenta
06 de novembro de 2023 a 28 de janeiro de 2024
Galeria de Arte UFF Leuna Guimarães dos Santos
Espaço UFF de Fotografia Paulo Duque Estrada
Segunda a Sexta, das 10h às 21h
Sábados e Domingos das 13h às 21h
VÍDEO
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